quarta-feira, 11 de março de 2009

O derretimento do jornalismo nos Estados Unidos I


Há pouco menos de um mês, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria do jornalista Walter Isaacson, ex-editor da revista Time e atualmente presidente do Instituto Aspen, intitulada Como salvar os jornais (e o jornalismo). Na verdade, era um artigo baseado em uma palestra do autor na Universidade de Riverside Califórnia, na qual ele fez um paralelo entre as transformações tecnológicas e o futuro – já presente - do jornalismo nos Estados Unidos. Algumas frases desta reportagem são sintomáticas e já realidade no Reino Unido, segundo comentou um amigo, que costuma ... ah, não posso contar, ainda... leia e antes - vale a pena.

“Durante os últimos meses, a crise no jornalismo atingiu proporções de derretimento. Agora é possível contemplar num futuro próximo uma época em que algumas grandes cidades não terão mais seu próprio jornal e as revistas e redes de notícias empregarão apenas um punhado de repórteres.”

Nesta aqui, ele parafraseia o Ricardo Gandour - Diretor de Conteúdo do Grupo Estado, num encontro patrocinado pela BM&F, no final do ano passado, o qual cobri, para a Mega Brasil, realizadora do evento: “Há, no entanto, um fato chocante e algo curioso a respeito desta crise. Os jornais têm hoje mais leitores do que nunca. O seu conteúdo, assim como o das revistas de notícias e de outros produtores do jornalismo tradicional, é mais popular do que jamais foi - até mesmo (na verdade, especialmente) entre o público jovem.”

“Nos Estados Unidos, as notícias gratuitas disponíveis na internet foram mais procuradas do que os jornais e revistas pagos que publicavam o mesmo conteúdo.”

“Quando a publicidade eletrônica entrou em declínio no último trimestre de 2008, o futuro do jornalismo parecia ser gratuito assim como um penhasco íngreme é o futuro de um bando de lemingues.”


“Tradicionalmente, jornais e revistas contam com três fontes de receita: as vendas nas bancas, as assinaturas e a publicidade. O novo modelo de negócios fia-se apenas na terceira dessas fontes. O resultado é uma cadeira de um pé só, de equilíbrio sempre tênue, por mais forte que esse pé seja. Quando o seu apoio fraqueja - o que incontáveis editores viram ocorrer como resultado da recessão - a cadeira não pode se manter de pé.”

“Nas últimas semanas, testemunhamos o fechamento completo de uma série de jornais locais, vimos a Tribune Company (dona do Los Angeles Times) pedir concordata, a Lee Enterprises ser retirada da lista da Bolsa de Valores de Nova York e o anúncio de uma nova rodada de demissões de fim de ano na Gannet e em outras empresas, reduzindo sua força de trabalho em 10% ou mais.”

“Henry Luce, cofundador da revista Time, desdenhou da noção das publicações gratuitas que dependem apenas da receita proveniente da publicidade. Ele chamou esta fórmula de "moralmente repugnante" e também de "economicamente inviável e derrotista". Isso porque ele acreditava que o bom jornalismo exigia que o compromisso primário de uma publicação fosse com os seus leitores, e não com os seus anunciantes.”

“Num modelo em que a única fonte de renda passa a ser a receita publicitária, o incentivo é perverso. Ele é também inviável e derrotista porque, afinal, o elo de uma publicação com o público leitor vai definhar se ela não sentir que a sua renda é diretamente dependente desse público. Os jornais acabarão produzindo vários cadernos especiais sobre decoração e jardinagem, coisa que desejam os anunciantes, e terão de se livrar dos cadernos de resenhas literárias, como já fizeram o Los Angeles Times e o Washington Post.”

“Estamos testemunhando esta quinzena final do jornalismo e suspeito que 2009 será lembrado como o ano em que as organizações jornalísticas perceberam que novas rodadas de cortes de gastos não podem afastar indefinidamente o carrasco.”

Engana-se quem pensa que o artigo acaba aí ou é apenas derrotista. Na verdade, Walter Isaacson dá sugestões de como veículos de comunicação podem sair desse final apocalíptico e cita exemplos de como algumas publicações estão se “virando” para dar a volta por cima. Mas, como eu quero conversar com alguns editores aqui, para trocar um dedo de prosa, quem sabe saber se este modelo pode pegar aqui, e para não me estender demais neste espaço, vou deixar apenas as frases que achei mais relevantes neste importante momento de discussão sobre o diploma, o futuro, as habilidades e o perfil do novo profissional do jornalismo.

Num mundo em que as tecnologias atravessam não somente as redações e nos atingem, profissionais, mas antes de nós, aos donos das publicações, com novidades desconcertantes para a manutenção de um modelo de negócio que deve ser repensado diariamente, vale a pena saber como esta discussão está sendo conduzida lá fora. Ou não? Para quem quiser ler a matéria toda - ela saiu no domingo, dia 15 de fevereiro. Mas o endereço completo, somente no próximo capítulo!
(Foto e biografia em http://www.events.ucr.edu/cgi-bin/display.cgi?event_id=28786

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