sábado, 4 de julho de 2009

A cobertura da morte de Jacko, a falta de liberdade de expressão dos "colegas de Redação" e o belo texto de Luis Nassif

E Farah Fawcett passou despercebida, apesar de outro ícone dos anos 70/80. Sua morte, ainda mais trágica, porque anunciada por um câncer resistente, foi quase desapercebida das pessoas. Faltou a devida atenção da mídia. Dois pesos e duas medidas...

O mosaicosocial tem ficado um tempo sem postar. Há momentos para escrever muito e outros em que é necessária pesquisa, leituras e releituras, visitas a várias fontes e aquela parada para juntar o que se apreendeu de todo o processo antes de um pronunciamento. Especialmente este, polêmico por tudo o que o cerca.

Michael Jackson: fenômeno na vida e na morte

Desde a notícia da provável morte de Michael Joe Jackson, no dia 25 de junho, ao final daquela quinta-feira, quando imediatamente fui ao novo grande pauteiro da hora - o Twitter - checar o então boato, me deparei com o que seria realmente um prenúncio do que as mídias sociais estão causando e vão causar daqui em diante em casos semelhantes: uma confusão geral até que as fontes ditas fidedignas se pronunciem e atestem fatos. Resolvi ainda buscar em fontes lá fora algo mais palpável - CNN, People, NYT, Washington Post, Mashable, entre os vários que sigo e recomendo. Aqui temos dois fatos importantes que devem ser comentados:

1) Num momento em que as fontes de informação estão pulverizadas e cada pessoa é "dona" do que escreve, é normal que uma onda de boatos se instale até que a notícia seja finalmente confirmada por instituições como hospital, polícia, instituto médico legal e outras que possam falar via imprensa institucionalizada (também!). Por isso, por mais que haja blogueiros extremamente confiáveis, quando se busca uma informação, o leitor, expectador, ouvinte de rádio, que seja, vai procurar uma fonte jornalística e isso é fato. Porque é o meio jornalístico que MEDIA esta informação apurada junto às instituições - quem tem acesso às instituições que vão liberar a informação - pelo menos AINDA.

2) No caso específico de Michael Jackson, uma figura emblemática por tudo o que já se disse dele e o que fizeram dele - a própria mídia com seu grande percentual de culpa - a informação foi comprometida pelo resultado de sua discrição ao extremo, pela sua opção pelo obscurantismo, solidão, aversão ao público depois de tanta especulação acerca de seus atos. E, claro, isso deu mais pano pra manga para que a mídia começasse a escrever e apurar o que quisesse com vizinhos, colegas, novos amigos que nunca haviam aparecido - ou velhos, com os quais não se viam mais o ator - a fazerem dos holofotes seu momentum de marketing pessoal e a elogiarem ou contarem histórias sobre o coitado que não estaria mais lá para desmentir. Mesmo a questão da sua morte foi um desencontro só entre todas as fontes até ser finalmente confirmada por People, CNN e outras.

Sensacionalismo

Não vou falar do que a mídia internacional apurou ou como. Meu lugar é aqui e a discussão do mosaicosocial envolve o nosso mercado. Que atire a primeira pedra quem não concorde comigo; foi uma pouca vergonha os noticiários daqui repetirem as matérias nas quais os assuntos principais foram: a fama desde a infância; o sucesso rápido; a importância para o mundo pop; os escândalos e a decadência - nesta sequência.

Depois de tanto se falar em sustentabilidade, em um mundo melhor para um planeta melhor, de vários atores da Globo apagarem as luzes em campanha mundial contra a fritura do planeta, em várias ações de pessoas para se fazer a diferença, eu pergunto: Que mídia se dignou a abordar, de verdade, o lado humanitário do artista, que se dedicou a causas sociais, investindo grande parte da fortuna amealhada com seu sucesso a ajudar crianças desnutridas na África? Alguma coisa no Fantástico, "de passage"? A matéria de Veja - que poderia ter dado um banho nas dos telejornais, não saiu do lugar comum, dedicando páginas e páginas à batida metamorfose do cantor. Para quê? E a Tevê Gazeta, no máximo, se vangloriou de colocar no ar um clip - único talvez em toda a história que vimos nestes dias, é verdade -, mas no qual o assunto é Jacko reunido com todo o clã, numa festa em família, já no fim dos anos 80. Neste clip, ele canta apenas uma estrofe da música em que o irmão Germaine Jackson enaltece o relacionamento familiar (Ugh!)

A questão é que ajudar crianças na África ou em qualquer outro lugar do mundo não rende. Não vende revistas, jornais, não dá audiência. Não como falar de escândalos, pagar milhões para se livrar de denúncias de abuso a adolescente de 13 anos, retirar prótese do nariz porque atrapalhava ao respirar na hora de dormir (conforme li em Veja) etc..

E de quem é a culpa? Dos jornalistas? Ou será dos cartolas da imprensa? Escrevi isso a um agora-colega-blogueiro, esta manhã. Ele deu um grito de alerta sobre a cobertura dos jornais e, lá pelas tantas, responsabilizou a nossa "catigoria". Eu não quis abrir um seminário - até porque não é coisa para um comentário dentro de um blog de variedades - mas tive que explicar que não era bem assim que tocava a banda. A falta de liberdade de expressão nas Redações é tão igual quanto a de qualquer funcionário em qualquer empresa e as pessoas "de fora" parecem não entender isso e acham que nós, os peões da reportagem, somos os "donos da cocada". Quem quiser, pode conferir em Blog do The Best, se o comentário passar pela moderação dele - rs!

Mas, quem realmente explicou bem a questão de como são as coisas na Redação foi Luis Nassif, num memorável conto-verdade que li a partir do blog Coleguinhas, Uni-vos!, do meu colega-jornalista, Ivson Alves.

Quem perdeu - aliás, perde sempre? O leitor, que pouco soube de Farah Fawcett




No meio desta insanidade envolvendo morte x liberdade de expressão (falta dela) x obrigatoriedade de cumprimento de agenda de cobertura x vendas de anúncio x revistas x a cobertura paralela feita pela mídia social = + crítica = cada vez + cheia de seguidores = não-compradores de mídia amanhã, perdeu o leitor comum. Nós ficamos sem saber o que realmente aconteceu com a musa dos anos 70/80.

Na seção obituário de Veja, Farah Fawcett teve suas colunas maiores que as demais das duas páginas dedicadas ao assunto na semana. Para quem igualmente, como a própria revista, igualou com Che Guevara o mesmo espaço em corações e mentes de uma geração inteira - pelos motivos que foram - faltou informação. Mas, pelo menos, ela teve apoio familiar, a visita do filho para o último adeus, antes de voltar à prisão por não aguentar o tranco e ter-se envolvido em drogas, e do ex-marido, o ator Ryan O' Neal. Este ainda leva para o resto da vida a trágica ironia de viver na vida real o drama que lhe rendeu a fama em Love Story: perder a mulher para o câncer. Lastimável em todos os aspectos. Aos dois, a paz!
Fotos: Michael Jackson(http://muslimmatters.org/wp-content/uploads/2009/06/michael_jackson_bad_era.jpg) e Farah Fawcett (poster público)

Um comentário:

Vitor Rolf disse...

Gostei dos comentários sobre os fatos eleitos. Uma análise crítica muito interessante e, no meu entender, bastante lúcida. Parabéns!