quarta-feira, 6 de maio de 2009

Twitter, a vida em gerúndio



A frase, dita por René de Paula Jr., o convidado da oficina promovida hoje pela revista Bites, no Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo, para ensinar representantes de empresas a lidarem com a ferramenta no mercado corporativo, resume um temor já enraizado em callcenters de todo o mundo. A vida virou um grande gerúndio. Ouvi-lo foi realmente divertido, a começar porque ele vive de defender uma marca que mora no inconsciente coletivo de todo o ser humano e tem o dever de evangelizá-la: a Microsoft e seus produtos. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, ele não é de Marketing, e sim, da área técnica. E, foi logo dizendo: “As melhores coisas da vida não são twittáveis”.

Ele não tem a menor idéia de porque coleciona 2.702 seguidores, “por questões de sanidade mental”, só segue 40 pessoas, e, diariamente, deixa de seguir outras tantas (destaque que faço para me eximir de qualquer culpa pelo grito de alerta dado contra o twitter semanas atrás, pelo vício que causa), na plataforma do pássaro azul, onde ele tem vários rostos. Como @uaudecadadia, por exemplo, ele é René de Paula, que trabalha na Microsoft e “colocou a cara para bater”, mas não como marca da Microsoft. “Acho isso de se esconder atrás da marca muito esquizofrênico”. Para de Paula, a plataforma tem tudo a ver com jabá e autopromoção. “Quando a coisa é jabá eu escrevo literalmente ‘isso é jabá’. Outra coisa; a Luana Piovani passou a me seguir. Vocês acham que eu acredito nisso? Deve ser a assessora de imprensa dela ou mesmo alguém me zoando”, complementou.

René de Paula acha que o twitter deve ser experimentado, que as pessoas precisam estar dentro do espaço para contar o que é, e que essencial mesmo é sempre monitorar o que ocorre e saber exatamente para que objetivo se twitta. “No meu caso, eu twitto para dar uma cara mais humana à empresa para a qual eu trabalho. Mas é uma plataforma muito consumidora de tempo e é necessário se perguntar sempre – qual o retorno sobre o investimento do tempo (o famoso ROI) disso? O que sempre me preocupa é se, de uma hora para outra, mais de 2.700 pessoas resolverem “dar certo”, eu tiver que conversar com elas e isso gerar dinheiro. Eu vou cortar é os pulsos”, brincou.

Após sugerir a visita ao seu tutorial, René de Paula reconheceu que o twitter também lhe permite coisas muito interessantes. Hoje ele conversa com pessoas que ele provavelmente não teria acesso por outras vias. “Troco experiências com gente dentro de instituições com as quais estamos começamos a desenvolver inclusive novos trabalhos. Aqui dá para fazer coisas e experimentar. Há riscos? Claro! Não tem escala, a gente pode virar estilingue na mão de qualquer um. Se for usado como um ponto de contato a mais para gerar tráfego ou com outro propósito, o que importa é que seja monitorado e não tire mais tempo do que o necessário”, frisou. Foto de Marcelo Marques

Oficina de twitter para uso corporativo apresenta técnicas detalhadas de monitoramento e cases de empresas que utilizam o pio das mais diversas formas

Fidelizar,esclarecer, atender, vender e discutir tecnologias para melhorar seus produtos são algumas das ações já desenvolvidas por companhias do mundo todo no céu dos passarinhos.




Manoel Fernandes, jornalista nascido no Recife – apesar de repetidamente insistir que seu forte sotaque é gaúcho, escreveu dois anos atrás que uma das primeiras lições aprendidas por ele é que não há fórmulas ou regras para entender o mundo da internet, suas novas ferramentas e personagens. Que este sempre foi um grande erro da mídia tradicional.

Passado o desafio de entender a regra número 1 deste novo mundo, o publisher da revista Bites resolveu abraçar outro, não menos difícil: o de reduzir as resistências do mundo corporativo a este universo, apresentando como as empresas podem se integrar a ele. De tempos em tempos, Manoel Fernandes e sua fiel equipe formada por André Victor, Zeni Bastos, Socorro Macedo e, mais recentemente, Ana Cavano e Renato Mendes, cria workshops, seminários e, como hoje, oficinas. O assunto do momento, o twitter, foi o tema do evento realizado na manhã deste dia 6 de maio, no Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo.

Dissecado em uma breve explicação sobre seu nascimento, foi logo apresentado em suas várias ferramentas de uso e monitoramento, grande parte delas desconhecida da maioria do público presente. Para ajudá-lo na tarefa contou com o depoimento do especialista René de Paula, da Microsoft, que deu seu depoimento sobre como ele utiliza o pio do pássaro azul em seu cotidiano, dentro e fora da companhia.

Melhor que o MSN

O princípio do twitter foi o de atender ao anseio das pessoas de se conectarem abertamente. Foi criado em 2006, por Evan Willians e Jack Dorsey, com uma verba inicial de US$ 55 mil, para ser algo ainda mais fácil que o Messenger – mas como uma estrutura de SMS que pudesse, especialmente, ser usada via rede móvel, ou seja, o Twitter foi criado visando a estrutura de mobilidade do celular. Nos Estados Unidos, toda uma estrutura de acordos foi desenvolvida com as operadoras para a possibilidade de uso do Twitter via celular; daí a explicação para os tais 140 caracteres – ou, o que mais tarde se chamou de microblogar. (Ah, entendi, e você?)

Uma de suas grandes sacadas é a simplicidade em termos de sistema, cuja plataforma é baseada no API (Application Programming Interface). Em poucas palavras, como está na Wikipedia, “programas que não querem envolver-se em detalhes da implementação do software, mas apenas usar seus serviços”.

Não demorou muito para se criar o verbo “twittar”, a exemplo de outros, incorporados da informática e da computação, como “printar” e “deletar”, ou mais recentemente também, “postar” (e, aqui, fazendo um comercialzinho básico, como está na dica desta semana do Boletim Mosaico Social, da Rádio Mega Brasil Online.

Manoel Fernandes mostrou as maiores audiências no twitter e explicou como criar perfis, mandar mensagens abertas ou direcionadas para uma pessoa, explicou a diferença entre seguidor e amigo e detalhou o Search.twitter, Twitterdeck, Twittervisor, Tweetstats, Tweeterholic, Tweeteranalyzer, Tweetgrid, Twitterfall e o Migre.me, esta última uma plataforma brasileira. Depois, apresentou vários cases de empresas que estão twittando a valer mundo afora. O Mosaico Social participou ativamente do evento, twittando o tempo todo e usando parte das ferramentas apresentadas durante a oficina. Algumas das sacadas podem ser acompanhadas aqui ao lado, já que agora o blog traz as atualizações do twitter para os leitores na própria página à medida que os estudos sobre as novas ferramentas vão sendo aprofundados. No próximo post, um pouco do que o René de Paula falou – e que me deixou particularmente mais tranquila por achar que aquele grito de alerta não foi um momento de insanidade, mas exatamente o contrário. Até lá. Foto de Marcelo Marques

terça-feira, 5 de maio de 2009

Com o fim da Lei de Imprensa pelo STF: nada resolvido e tudo adiado. E a liberdade de imprensa? Só existirá como dever em si mesmo

Realizado apenas quatro dias depois da revogação da Lei de Imprensa, o II Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia, que a Revista Imprensa promoveu ontem em São Paulo, deixou expor a ferida aberta de milhares de jornalistas afetados não somente pelas mudanças causadas pela quebra de paradigma das tecnologias que têm facilitado a colaboração midiática em todo o mundo. Polêmica, a decisão do STF de revogar a Lei de Imprensa em sua totalidade mostrou as opiniões díspares entre próprios pares, mas não somente entre jornalistas e sim, juízes e advogados, revelando o quão difícil é mesmo a questão e tem sido conseguir a adesão da classe para uma definição quanto ao seu futuro político e social no contexto profissional junto à sociedade.

Claro! A questão toda passa por meandros filosóficos e ideológicos em que, dependendo do interesse, os discursos retóricos inflamam-se para um lado ou outro da moeda. Um deles envolve a ganância de patrões endividados, querendo resolver como evitar que cada variação da moeda estrangeira seja um problema para pagar salários e manter suas contas, ou deputados donos de concessões de rádios e tevês, que não querem ver seus escândalos estampados em suas próprias retransmissoras, portanto, sem querer ter em seus quadros de funcionários jornalistas pensantes e questionadores. Do outro, há a tentativa frustrada de quem também tenta uma solução para regular o mercado para que os colegas tenham um lugar ao sol, desempenhando seu papel de mediador da sociedade ao apurar os vários lados dos fatos e garantir o mínimo de transparência em ações de governantes ou empresas, de instituições e pessoas, prestando um serviço aos leitores. Isso só para apontar talvez um dos vários pontos envolvidos na questão, que tem outros, muitos outros.

Dicotomia patente

O que importa é que isso ficou patente para quem participou durante todo o evento ontem. Pela manhã, por exemplo, Dr. Martim Fonseca, representando a OAB/SP, abriu sua fala comparando a profissão do advogado ao jornalista “pela necessidade de exercê-la havendo um Estado de Direito” e disse que apesar de os advogados terem cuidado de suas leis, deixaram lacunas e problemas, como os que causaram o desfecho do STF. Para ele “o novo código civil brasileiro não responde aos clamores do exercício do jornalismo e suas especificidades em relação ao exercício de sua profissão. Por isso mesmo, a OAB não podia concordar com o havia sido feito na sexta-feira”. Mas, algumas horas depois, lá pelas 15h, seu colega carioca, Dr. Gustavo Binemboim teceu os mais altos elogios ao STF, por justamente extinguir um dos últimos “entulhos da ditadura”.

Alguém discorda de algum deles? Na verdade, nenhum dos dois está errado; cada qual teve um ponto a defender. A questão é que dentro da Lei de Imprensa, pela qual a categoria jornalística lutou por tantos anos, e instaurada no meio de um dos piores momentos da nossa história, havia vários dispositivos que garantiam direitos hoje transformados em pó. Novas leis e regulamentações serão necessárias e, no Brasil que conhecemos, levar-se-ão sabe-se lá quantos anos a mais para acontecer. Ou, ainda, antes disso, como questionou o representante da Abert – Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, Evandro Magalhães, “e sobre o que está já regulamentado e o Estado não faz nada para fazer prevalecer?”, referindo-se não somente ao atraso tecnológico das rádios em relação à potência, mas à imensa quantidade de rádios pirata sem licença para operar, e à deturpação das empresas privadas de TV utilizarem uma frequência específica de canais...

Queremos crer, como disse o diretor da Revista e do Portal Imprensa, Sinval Itacarambi de Leão, ao defender a liberdade de imprensa, que a realidade democrática brasileira seja mesmo “polifônica” para buscar a melhor imprensa, agora também representada pelos blogueiros.

Sustentabilidade

Seja como for, para o editor de conteúdo do Estado de S. Paulo, Ricardo Gandour, expressamente contra a Lei de Imprensa, a questão da sua liberdade deve passar pela ótica da sustentabilidade. “O empreendimento jornalístico deve buscar a sustentabilidade à medida que a crença deste todo coincida com a crença da maioria das partes que se interagem”. Como nunca na história da humanidade estes envolvidos todos estiveram diante de uma “desintermediação” de informações como a que a internet tem proporcionado, da possibilidade instantânea e infinita de acesso e postagem de mensagens na internet, Gandour defende que a liberdade de imprensa seja cuidada em torno de uma imprensa como instituição e livre. E, parafraseando o escritor Gay Talese, complementou: “Uma Redação ainda é o menor número de mentirosos por metro quadrado do mundo e a melhor empreitada pela busca da verdade de que se tem notícia.”

Jean Paul Sartre

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, Guto Camargo, representando a FENAJ, tentou, mas quem realmente alinhavou a melhor expressão da liberdade de imprensa foi o professor Eugênio Bucci, professor da ECA/USP, convidado para a Conferência de encerramento do evento.

Explicou que os jornalistas precisam ter independência social para produzirem conteúdo com garantias para investigar eficazmente os assuntos, baseados no conhecimento das técnicas e no deontologismo que aprenderam nos cursos de jornalismo. Disse ainda que os colegas de profissão devem desenvolver seus trabalhos com credibilidade e liberdade, mas que esta liberdade de imprensa vai além de qualquer dispositivo legal – que ela deve ser encarada como valor de vida – e citou Jean Paul Sartre ao mencionar que o ser humano está “condenado a existir para sempre além dos seus casos”, ou seja, “que não somos livres para deixarmos de ser livres”.

Disse Bucci. “O jornalista precisa ser livre para ser o que é e garantir a liberdade da imprensa que, por sua vez, será a garantia da democracia de um povo, do cidadão, de uma sociedade inteira”. E fechou: “O dever da liberdade vem antes do dever da verdade”. Ou seja, só se encontra a verdade quando se pratica a liberdade interior (é quando os fatos se revelam por si!). Precisa de mais?

O vídeo da cubana proibida de participar do evento sobre Liberdade de Imprensa

Ontem postei sobre o blog Geração Y, da cubana Yoani Sanchéz, que clama por muito mais do que liberdade de imprensa - já que ela nem jornalista é, mas pede que todos nós, jornalistas e/ou blogueiros, a ajudemos a multiplicar suas mensagens.

Seu blog é mantido sob rigorosa vigilância do governo cubano, que impede o livre arbítrio do cidadão, sob a égide de um governo autoritário e de princípios velhos para gerações que querem ter acesso a bens de consumo e tecnologias, trocas de conhecimentos além fronteiras.

Hoje, o vídeo a que os presentes ao evento tiveram acesso foi colocado à disposição para quem não pôde comparecer e, como não podia deixar passar em branco, aqui está!



Se você tem um blog, divulgue-o também. Multiplique-o! Estamos no século XXI! Vamos fazer com que as mídias sociais e o jornalismo colaborativo atuem em prol da sociedade civil - literalmente!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cubana faz sua revolução via mídias sociais

Hoje, o Mosaico Social participa do II Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia, que se realiza em São Paulo e tem por objetivo retomar as discussões sobre a importância da liberdade para a consolidação de uma imprensa e uma sociedade em que a cidadania seja um valor pleno e acessível a todos.

Esta manhã, o evento – que, ao longo da última semana, gerou três solicitações de confirmação por causa da imensa procura, especialmente por alunos de faculdades de Jornalismo - teve – depois da abertura de praxe, que valerá um post mais tarde, um momento bastante marcante: justamente a falta de liberdade que não permitiu a presença, mas não de uma jornalista e sim, da blogueira cubana Yoani Sánchez, de integrar-se ao evento como convidada, para falar do sucesso de sua iniciativa.

As razões são óbvias e têm a ver com a falta de liberdade imposta aos cidadãos cubanos que vivem sob o regime ditatorial castrista. Cidadã do século XXI e cansada de esperar pelo tal “mundo melhor” prometido a seus pais pela revolução realizada por Fidel Castro, Yoani – que insiste em se apresentar como blogueira - encontrou no potencial tecnológico das novas mídias uma válvula de escape para denunciar, questionar e buscar apoio para mostrar ao mundo que há toda uma geração querendo ter acesso a tudo o que somente Cuba parece não ter. O Geração Y passou a fazer sucesso além mar e ela chamou a atenção do mundo e do governo cubano.

Para quem acredita que Cuba, de uns tempos para cá, vem se mostrando mais afável ao mundo, ela esclareceu que mesmo as “mudanças” prometidas pelo Governo Raul Castro são consideradas maquiagens ideológicas, coisa para “americano” (leia-se Obama) ver. “Para se ter uma idéia, o preço de um celular que será institucionalizado deve ser algo em torno a três vezes o salário médio de um trabalhador”, diz ela, ficando praticamente elas por elas em relação ao que já acontece hoje dentro do mercado informal.

Chamada para entrevistas na Espanha e em outros lugares, como aqui, Yoaní não somente foi proibida, como vem sofrendo vigilância do governo cubano desde então. Para manter o blog funcionando, ela grava os posts em pen-drives e tem recorrido a amigos de fora do país e toda uma nova rede de pessoas amigas que vêm conquistando e ajudando-a mais e mais,difundindo seu trabalho, bem como o de outros blogueiros cubanos.

Aos jornalistas brasileiros com quem conversou por telefone, ela pediu que passemos a integrar esta rede, mostrando a situação para fazer com que o governo acabe com a ação agressiva direta que os blogueiros vêm sofrendo, e permitindo que o mundo acorde e cobre uma posição mais eficaz sobre a liberdade de expressão em Cuba.

O Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia acontece hoje, até às 18h, no edifício da FIESP, em São Paulo. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo é uma das apoiadoras do evento junto com Rede Globo e OAB/SP. A promoção do evento é assinada pela Revista Imprensa.